Por Tatyane Mendes
Até 2025, o mercado de tecnologia focado em internet das coisas deve movimentar 11 trilhões de dólares, com um crescimento anual de 40%. Com isso, surgem diversas oportunidades de investimento e trabalho na área. Entenda mais sobre o setor!
“Se tivéssemos computadores que soubessem de tudo o que há para saber sobre coisas, usando dados que foram colhidos, sem qualquer interação humana, seríamos capazes de monitorar e mensurar tudo, reduzindo o desperdício, as perdas e o custo”, descreveu o pesquisador Kevin Ashton sobre o conceito de internet das coisas, em 2009.
Desde então, a tecnologia vem evoluindo, assim como a eminência da explosão da internet das coisas. O setor cresce cerca de 40% ao ano, o que deve se traduzir em um mercado de 11 trilhões de dólares até 2025, segundo estimativas da Fundação Getulio Vargas (FGV). Com isso, surgem diversas oportunidades de investimento e trabalho na área de tecnologia. Entenda melhor o setor:
O que é internet das coisas?
Sócio da uMov.me, plataforma focada na automação de processos, Daniel Wildt explica que a internet das coisas se refere à conexão que um dispositivo pode fazer com outros. “Por exemplo, eu posso usar meu celular para configurar minha televisão para ligar todo dia em um determinado horário. Começamos a criar uma capacidade de automação usando aplicativos que configuram outros aplicativos, criando uma conexão entre eles. A partir disso, existem muitas possibilidades, inclusive dentro do ambiente corporativo para facilitar processos”, indica.
Demi Getschko, diretor-presidente do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), parte do Comitê Gestor da Internet no Brasil, complementa que o advento da internet das coisas surge da integração entre o avanço da internet e da popularização da computação. “Você tem a internet avançando em todas as áreas da sociedade e a penetração da computação em todos os dispositivos do dia a dia. Então, as duas coisas se encontram porque a medida que você espalha computação, espalha também acesso remoto para facilitar o uso de acessórios. E você usa a internet para trocar informações. As coisas vão falar com o centro delas, que você controla”, esclarece.
Essa grande interconexão é capaz de aumentar a eficiência de vários processos. “No setor agrícola, por exemplo, você pode ter um esquema automático para avaliar e medir o PH, a temperatura, colocar a quantidade certa de calcário, ajustando tudo para gerar os melhores resultados possíveis. Se você junta a informação com a automação, aumenta a eficiência e se torna mais competitivo para sobreviver no mundo de hoje. Você ganha autonomia, mas existe o risco de alguém de fora conseguir controlar essa comunicação”, aponta.
Ele ainda acrescenta que a internet das coisas é usada para fazer inteligência artificial e gerar cidades inteligentes. “As coisas vão avançando a partir do momento que você tem recursos. Você vai ter uma coleção de ferramentas em paralelo na internet das coisas que montarão a forma das coisas se comunicarem com você e entre si”, indica.
Desafios da internet das coisas
Werter Padilha, coordenador do comitê de internet das coisas da Associação Brasileira das Empresas de Software, afirma que conforme a internet das coisas for se popularizando, ela vai se tornar mais acessível. Ainda assim, o Brasil possui um grande desafio. “E ele é que a tecnologia não é tão bem distribuída. O brasileiro é um dos que mais adotam tecnologia. Gostamos de usar, mas nem sempre temos acesso. Nos Estados Unidos se utiliza mais a tecnologia, é muito disseminada. Mas coisas muito novas chegam aqui em um ano. A questão é facilitar o acesso”, opina.
O empreendedor ainda afirma que o Brasil possui um grande potencial de desenvolvimento tecnológico para se tornar líder em internet das coisas. “O que nos falta é um poder de união. A gente nunca teve muito apoio, não temos histórico de parceiras, o que facilitaria muito. Mas sou otimista porque somos muitos bons. Sempre fizemos muito com pouco e trouxemos soluções criativas, que é exatamente uma das premissas da internet das coisas”, indica.
Outra questão importante é a transformação dos profissionais essenciais para esse trabalho. “De um lado, temos os hardwares, os dispositivos. Para isso, precisamos de gente de elétrica, eletrônica e mecânica. Do outro lado, temos os software com os profissionais de computação. Sempre tivemos essa visão dicotômica que é uma coisa ou outra. Mas os dois mundos começam a fazer uma simbiose forte porque são os dois ao mesmo tempo. As duas coisas tem que andar juntas. O dispositivo tem que ser inteligente, que vem do software, mas ele tem que ter funcional, que vem da eletrônica ou mecânica”, exemplifica.
Ele observa que as instituições de ensino não estão tendo condições de acompanhar o ritmo do mercado e estão ficando defasadas. “A academia tem que consolidar esse conhecimento. Antes, ela tinha tempo para isso. Agora, com o ritmo alucinado da tecnologia, não dá tendo tempo de trazer isso e formatar o conhecimento. Isso é um problema mundial. As grandes empresas estão criando suas próprias academias e cursos internos para formar esse pessoal. Quem trabalha com internet das coisas é um profissional em formação”, avalia.
A questão da segurança
A grande vantagem da internet das coisas é se conectar de forma mais fácil com outras plataformas. “Começamos a ter várias formas de compartilhar informações que estão disponíveis e cada vez mais vamos ter habilidades nesses dispositivos. São pequenas ações que vamos automatizando, facilitando a vida de alguém com menos trabalho manual, mais comodidade e facilidade. Contudo, é uma realidade um pouco distante ainda no Brasil e ela vem com um preço”, comenta Wildt.
Ele ressalta que existe uma preocupação muito grande em relação a segurança e privacidade quando se usa a internet das coisas. “Vários dados estão sendo trocados por esses dispositivos e, dependendo das conexões, você não sabe muito bem onde essas informações são jogadas e como podem ser aproveitadas por terceiro. Existe uma discussão muito grande nesse sentido sobre confiança e exposição de dados. É uma preocupação do setor”, revela.
Getschko compartilha do mesmo receio e analisa alguns dos malefícios desse excesso de trocas de informações. “Há um momento em que as coisas passam a falar com você via internet. Isso gera perigosos de privacidade e mal feito. Alguém pode mexer no seu marca passo ou medidor de glicose, causando sérios danos. Existem várias consequências que vem com esse conforto”, pondera.
Oportunidades de trabalho
Para quem tem interesse em trabalhar com internet das coisas, curiosidade e observação são habilidades essenciais segundo Wildt. “Os profissionais precisam estar atentos a oportunidades de automatizar alguma coisa repetitiva e previsível, além de entender o contexto em que isso acontece e como pode ser melhorado. A partir disso, é ir experimentando, testando e conectando as coisas que já existem. Isso vai te habilitando para criar essas novas ideias”, compartilha.
Cursos técnicos ou tecnológicos em computação, informática e eletrônica oferecem uma boa base para quem quer começar na área. “São conhecimentos importantes. As pessoas pensam que é algo muito técnico, mas tem esse componente do ambiente, de estar observando como as coisas funcionam e sempre ir tentando aprender”, divide.
Além de oportunidades na área eletrônica e de ciência da computação, Getschko enxerga que existe também trabalho para correlacionadas. “Profissionais de inteligência artificial e do Direito, por exemplo, também pode estar envolvidos. Além do conhecimento técnico de eletrônica, tem que saber programação, computação e entender como os produtos podem afetar direitos do usuário em questão de segurança e ética. Trabalhar com internet das coisas exige equipes multidisciplinares”, observa.
Padilha adiciona que é importante que o jovem profissional seja eclético e curioso. “Precisa ter uma mente aberta e disposição para ver de tudo um pouco. Ele vai ter uma especialização, mas também precisa de uma visão mais geral porque as coisas estão cada vez mais interconectadas. Ele também não pode parar de estudar, porque sempre vão aparecer coisas novas. Formação superior é importante, mas não essencial. O profissional precisa de conhecimentos de computação. Para quem quer uma carreira mais estruturada, não é a melhor opção. Tem que estar disposto, gostar de desafios e quebrar a cabeça”, finaliza.
Fonte: Portal Na Prática